Certa vez conheci um homem de 65 anos, Gilberto*, que me contou um fato doloroso de sua infância: "Nós éramos cinco filhos e nossa família era muito pobre. Quando consegui começar a ir à escola, não tinha sapatos e nem material para estudar. Quando cheguei a primeira vez na escola fui motivo de piada pois além de não ter material, estava descalço". Aquele homem de 65 anos, encheu seus olhos de lágrimas ao contar sobre as piadas que faziam sobre ele em sua infância. Imaginem, um fato ocorrido há tantos anos e ainda lhe causava sofrimento. São assim as feridas interiores, se não trabalhadas e superadas, tornam-se um martírio sem fim.
O primeiro passo para a cura é reconhecer-se ferido. Ninguém vai ao médico se não perceber que a saúde está complicada, nem busca um remédio quem não se sente doente. Somente podemos começar um processo de Cura Interior se nos reconhecermos doentes.
Para ajudar Gilberto, foi preciso antes que ele assumisse que aquilo ainda lhe fazia mal e ao mesmo tempo convencê-lo de que ele precisava superar aquilo e reconhecer que hoje ele tem a chance de ter uma vida boa, que pode comprar sapatos bons, que é uma pessoa amada não pelo que veste mas pelo que é; acima de tudo que não pode mudar o passado mas que pode construir algo novo no hoje. Depois de rezar sobre essa ferida e ele aceitar que é amado por Deus e pelos outros, ele ainda se propôs a ajudar crianças que eram pobres fazendo uma campanha para que todos de sua comunidade rural tivesse material e roupas para ir à escola. Assim pôde começar o processo de cura, deixando o passado para trás e construindo um futuro.
Não importa o tamanho das suas feridas ou decepções, não é possível voltar e fazer as coisas diferentes. Aceite! Mas aceite para poder vencer, não para viver como uma vítima do passado. Alguém que sempre vai se fazer de coitado e mal amado. É preciso ao aceitar que não se pode mudar o passado, começar uma reconciliação com o mesmo: Um processo de cura interior.
Comecemos nosso Caminho de Cura!
Primeiro passo: Reconhecer-se ferido.
Segundo passo: Reconhecer que não pode mudar o que já aconteceu.
Terceiro passo: Reconciliar-se com o passado.
Mas como reconciliar-se com o Passado?
É preciso primeiro reconhecer onde estão as feridas, as carências e os medos. Buscar no passado a sua raiz: uma decepção, um susto, ameaças, mortes, abandono, abusos, traições e mentiras. A lista pode ser longa e relembrar os fatos pode ser muito doloroso, por isso é sempre bom contar com a ajuda de alguém. Esse alguém pode ser um Sacerdote, um amigo, um servo de um grupo de oração ou de uma Comunidade Católica, um profissional de psicologia cristão ou mesmo os pais e irmãos. O importante é que essa pessoa possa estar disposta a aceitar que você precisa de ajuda e queira te ajudar. MAS é preciso saber bem a quem confiar nossas feridas, pois se for alguém desequilibrado ou fora dos bons princípios, poderá fazer ainda mais mal. Fuja das pessoas que querem se aproveitar de sua fragilidade, ainda que suas carências te façam querer isso, é preciso vencê-las e não alimentá-las.
E por fim lembe-se: A Cura Interior é um processo. Não adianta querer que as coisas se resolvam do dia para noite, em casos de feridas profundas é preciso paciência e oração, perseverança e luta. Mas tenha sempre a certeza de que em Jesus tudo pode ser mudado. Ele se derramou na Cruz até a última gota de Sangue pela nossa Salvação, nunca deixe de invocá-lo e pedir que Ele te ajude a cada passo.
Deus te abençoe!
*O nome foi alterado em respeito ao irmão.
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